É o monstro de olhos verdes que vira a cabeça horrorosa pra voce toda vez que uma amiga arranja um emprego novo – ou um homem novo. Mas por que nós somos alvo fácil pra essa emoção tão má?
Conforme Lucy Taylor [com certeza serve para nós homens também] – The Daily Mail UK version
Outro dia minha amiga dos tempos de escola me mandou um video caseiro da sua nova vida ao sol noutro país. Lá estava ela com um lindo marido e duas crianças lindíssimas comendo churrasco no jardim imenso duma casa palacial na parte rica de Mumbai.
O tempo estava idílico, a cerveja no ponto e as crianças pareciam coisa de revista, pulando pra dentro e pra fora da piscina da família.
'Que vida!' eu respondi por email, mais umas coisinhas agradavies banais. Pensei em fazer uma piadinha sobre a cerveja ou sobre a pobreza em Mumbai ou sobre meus impostos pagando por todo aquele luxo (o marido dela trabalha pra uma agencia financiada por dinheiro publico) mas aí lembrei que piadinhas nem sempre dão certo nas cyberconversas, entao nao me importei.

Monstro de olhos verdes: a inveja pode atacar quando uma amiga arranja um novo emprego, uma casa nova ou um homem novo.
Fui olhar pra fora da janela. O sol tinha-se ido. As nuvens tinham voltado. Olhei em volta pro meu AP. Era pequeno, sem marido e sem criança. Jardim eu nao tenho, piscina menos ainda.
Fui assistir as noticias. Mais histórias deprimentes sobre políticos falidos moralmente.
Que vida. Eu disse pra mim mesma que estava realmente feliz pela minha amiga. Genuinamente, sinceramente feliz por ela. Eu disse pra mim mesma que nao estava com inveja. Mas tinha um sentimentozinho irritante na boca do meu estômago. Uma outra amiga minha está se casando em alguns dias. Vai ser um negócio luxuoso e extravagante com quase 200 convidados, uma tenda enorme, cinco damas-de-honra e a um custo que poderia alimentar 3.500 crianças africanas por um ano (sério, eu fiz as contas!).
Essa amiga permanentemente sorridente está bobinha pelo futuro marido, tanto que esta se convertendo do seu ateísmo pro Catolicismo dele.
Eu digo pra mim mesma que estou realmente feliz por ela. Genuinamente, sinceramente feliz por ela. Eu digo pra mim mesma que nao estou com inveja.
Mas a verdade é que eu tenho aquele mesmo sentimentozinho irritante.
Tenho que lutar contra a vontade que dá de repente, de citar, assim sem querer, o fato de que quase 50% de todos os casamentos terminam em divórcio; que dois terços dos homens e metade das mulheres irao em algum ponto do casamento ter um caso. Também tenho de lutar contra a vontade repentina de perguntar a ela que tipo de mulher inteligente, que luta por igualdade, se converte a religiao do marido?? Nos nossos dias, na nossa era!

'Pecado pior que o racismo': Mas todos somos culpados de inveja
Ah Deus. Não posso fingir mais. A verdade está exposta. Eu admito. Estou sofrendo a antiquissima e horrorosa inveja.
Eu conduzi uma breve pesquisa nada cientifica com algumas das minhas outras amigas. Embora estivessem no inicio relutantes em confessar, no fim elas admitiram com todas as palavras que elas tinham os mesmos sentimentos. Ou pelo menos que todas sentiram aquele sentimentozinho quando assistiram o filme de Mumbai.
O que há com a bendita inveja, afinal? Essa emoção é, de acordo com experts, endêmica em todas as sociedades competitivas. Diz-se que é o fator motivador por tras das ações e comportamento de muitas pessoas. Ainda assim a maior parte de nós finge – até pra nós mesmos – que estamos acima da inveja.
Nós admitiríamos uma leva de falhas e defeitos, mas muitos de nós evitaria ao máximo admitir que já sentiu aquilo que Iago, o personagem shakespeariano, chamou de o ‘monstro de olhos verdes’.
Ele estava falando especificamente do primo próximo da inveja, o ciúme [ Segundo o Aurélio:
ciúme
[Do lat. *zelumen < lat. zelus < gr. zêlos, ‘cuidado’; ‘ardor’; ‘inveja’; ‘ciúme’.]
Substantivo masculino.
1.Sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade fazem nascer em alguém; zelos. [Nesta acepç. é m. us. no pl.]
2.Emulação, competição, rivalidade.
3.Despeito invejoso; inveja.
4.Receio de perder alguma coisa; cuidado, zelo:
Guardou o retrato com ciúme.
[Do lat. *zelumen < lat. zelus < gr. zêlos, ‘cuidado’; ‘ardor’; ‘inveja’; ‘ciúme’.]
Substantivo masculino.
1.Sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade fazem nascer em alguém; zelos. [Nesta acepç. é m. us. no pl.]
2.Emulação, competição, rivalidade.
3.Despeito invejoso; inveja.
4.Receio de perder alguma coisa; cuidado, zelo:
Guardou o retrato com ciúme.
]. Embora em algumas situações as palavras pareçam sinônimas, tem uma diferença. Ciúmes é o medo de perder algo que voce tem para outra pessoa; inveja é a frustração causada por outra pessoa ter algo que voce nao tem.
Pessoalmente, eu nao achava que fosse uma pessoa ciumenta ate o fim do ano passado quando eu descobri que um cara que eu secretamente pensava “Vai ser ELE” [tinha uma química obvia entre nós, mas não-declarada, já por anos] estava para se casar com sua novíssima, jovensíssima namorada.
Ao ouvir aquelas noticias, minha primeira reação foi chorar. E chorar. E aí chorar um pouco mais. Eu soluçava como uma criança que teve seu brinquedo favorito, mais amado, roubado pela garota mais bonita e mais popular do playground.
Quando eu finalmente consegui parar as lágrimas, fiquei consumida por sentimentos de inferioridade, hostilidade e resentimento. Eu não acho que teria chamado aquilo de inveja naquela época. Quem admite sentir uma emoção tão forte mas tão mesquinha assim? Mas era, é claro, precisamente isso que eu estava sentindo.
Eu queria saber tudo dessa outra mulher. Por uma amiga da amiga da amiga, eu descobria um detalhe doloroso e destruidor de egos após o outro. Ela tem 24 anos. Eu tenho 38. Ela está gravidaaa! Eu não, nunca estive e possivelmente nunca estarei.
Ela é professora de yoga em meio-período e tem os pais tao podres de ricos que eles deram a ela O apartamento. Eu sou uma escritora que tem que se preocupar com pagar a hipoteca todo mês. Ah, e meus pais podem ser qualquer coisa menos ricos.
Ela é pequenina e loura e aparentemente super-confiante. Eu nao sou nada disso. Pior de tudo ela tem ele. E eu não. Ela lutou por ele como apenas os super-confiantes conseguem. Eu sempre me refreei.
Nós tínhamos ensaiado por muitos anos para admitir, avançando e recuando, esperando o destino intervir. Eu não esperava que o destino viesse na forma de uma instrutora de yoga jovem e confiante.
Procurei online e fiquei por horas olhando o retratinho dela no Facebbok. Eu só queria ver como ela era; para ver o quê, em termos visuais, ela tem que eu nao tenho.
Eu também queria achar defeitos. Mas não tinha nenhum. Ela era muito atraente. Eu até pensei em assistir a uma das aulas de yoga dela. Só pra ver cara-a-cara. Precisei de todas as minhas forças –- e do medo que ele descobrisse – para não ir.
Antes de tudo isso eu sinceramente pensava que eu estava acima da inveja. Eu não me achava insegura. Eu achava que estava bem comigo mesma e com quem eu era. Eu não comecei, como uma amiga minha, a instantaneamente odiar todas as mulheres bonitas, rotulando a todas de cabeças-de-vento, vazias e inuteis.
Eu tambem me sentia feliz com a minha vida profissional.
Eu estava fazendo um serviço que eu adoro, entao nunca fiquei ressentida quando amigos recebiam grandes aumentos ou promoções.
Na minha vida pessoal, embora tivesse consciencia de que eu estava indo com a maré, deixando as coisas passarem, eu sempre tinha a impressão que tudo iria dar certo no final. Entao quando outras amigas se casavam e tinham filhos eu genuinamente me sentia feliz por elas.
Eu nem mesmo me lembro de jamais ter sentido uma inveja tao profunda, tao corrosiva até que a professora de yoga aparecesse. Aí eu fiquei sem ação.
Eu secretamente imaginava todas as coisas horriveis que poderiam acontecer com essa mulher. Elas não eram legais. Na verdade, elas eram feias demais pra escrever. O que posso dizer é que não seriam estranhas numa tragédia de Shakespeare..
Também me encontrei desejando que tivesse pais mais ricos. Imagine sua mãe e seu pai te dando um apartamento. Imagine nunca ter que se preocupar com dinheiro. Imagine ter os pais que instilam em voce a confiança de ir atras do que vc quer e não levar não como resposta. Imagine. É tudo o que eu podia fazer, imaginar, porque eu nao tinha pais assim.
Eu nao preciso de você dizendo pra mim que isso é horrivel e patético e infantil e egoísta e ingrato. Eu sei de tudo isso. Eu estava total e completamente enojada de mim mesma, e cheia de culpa e asco por ser uma pessoa tao inteiramente desprezível.
E esse é o problema com a inveja. É tao destrutiva, tao corrosiva. Ela bloqueia toda a clareza, turva os pensamentos, resseca o coração e te faz desistir de vc mesma tanto quanto possivel.
Eu tinha que fazer algo. Entao eu li o tipo de livro que eu tinha sempre desprezado como sendo pra gente triste com sérios problemas psicologicos.
Eu aprendi que embora muitas de nós nao gostariamos de admitir, a inveja entre mulheres é uma emoção arquetípica ou padrão. É considerada ser o mais comum, mas o menos reconhecido, dos pecados capitais, e é tao onipresente e universal que existe uma palavra para ela em todas as línguas conhecidas.
Tambem descobri que a inveja como reflexo tende a acontecer entre pessoas do mesmo sexo (meninos tem inveja de outros meninos; meninas de outras meninas) e determina a maioria de nossas relações com outras mulheres.
Na badalada briga no Big Brother Celebrity envolvendo a falecida Jade Goody, houve um grande debate quanto a se os comentarios dela sobre sua co-competidora glamurosa Shilpa Shetty, foram motivados por racismo ou por ignorância.
Na verdade, eles foram muito provavelmente motivados por inveja. Entretanto, ninguem fala sobre isso. É muito feio, aparentemente mais feio que racismo e ignorância. Então todos nós fingimos que ela nao existe. Toda nossa cultura, nossos pais, nossas igrejas, nossos amigos dizem que é errado – um pecado capital.
Mas quem nunca sentiu em algum momento de sua vida uma emoção dessas? Em seu livro, Between Women: Love, Envy And Competition In Women's Friendships (Entre Mulheres: Amor, Inveja e Competição em Amizades Femininas), a psicoterapeuta Susie Orbach diz que muitas mulheres acham difícil lidar com a inveja quando uma amiga alcança algo que elas querem, seja uma promoção no trabalho, um parceiro ou uma gravidez.
'Nossa cultura cada vez mais força as mulheres a competir umas com as outras,' ela diz. ' Porém, frequentemente nós nao temos o aparato emocional ou as habilidades comunicativas necessarias para lidar com as consequencias. A vergonha paralizante, resentimento, sentimentos de deslealdade e maldade trazidos a tona pela inveja podem levar as mulheres a agir de maneiras que depois se arrependem depois.
Por exemplo, as vezes mulheres tentarão sabotar uma colega de trabalho bem-sucedida ou rejeitarão uma amiga que consegue maior sucesso.' Entretanto, Orbach salienta que admitir a inveja pode servir como um grande acordar realidade.
Quando a professora de yoga apareceu, fui forçada a dar uma longa e realista olhada em mim mesma. Fui forçada a pensar sobre porquê eu nao tinha a confiança que eu pensava que ela tinha. Tambem fui forçada a ver o que faltava na minha vida que me fazia sentir tao invejosa dos outros.
Hoje tento nao ver a inveja como um pecado. Prefiro pensar nisso como uma emoção humana normal, frequentemente ocultada, que varia em intensidade. Às vezes, nao é nada maior que uma vontadezinha pra nos apontar o que esta faltando em nossas vidas. Outras vezes, geralmente quando é negada, pode ser um veneno letal.
A única maneira de neutralizar e minimizar seus efeitos destrutivos é encará-la de frente, admiti-la e explorar o que ha por trás dela. Ou, como os psicólogos diriam, ‘aproprie-se’ dela. Apenas assim, muito bizarro isso, ela começa a perder sua força.
Não há duvidas de que a inveja pode ser uma emoção extremamente dolorosa bem como extremamente prejudicial. Mas ser honesta sobre ela – falando sobre ela, pensando sobre ela, entendendo o que ela esta querendo te dizer – pode fazer tudo isso desaparecer.
Realmente, agora que coloquei tudo pra fora, eu nao me sinto mais tao resentida com aquelas amigas que citei no inicio. Eu nao torço mais pra que comece a chover em Mumbai. Na verdade, acho que vou me convidar para umas bem merecidas férias.
Nossa, vc falou tudo! Sei bem como que é.,., Mas estou tentndo mudar, correr atrás das coisas que eu quero, ao invés de só assistir a vida passar, "ir com a maré".
ReplyDeleteNa minha opinião há dois tipos de inveja: aquela que é a mais "branda" (?), algo às vezes até inconsciente (?), tipo em relação à tua amiga de Mumbai.,., A outra é aquela corrosiva de fato, que nos amarga o coração e nos faz agir de forma, err como posso dizer, vergonhosa, aquela que a gente comça a disparar frases e tentar encontrar defeitos, aquela que vc faz piadinhas maliciosas, olha torto para a pessoa.,., Essa é de matar! Já tive ambas (e que ser humano não?). Comecei a me analisar, a me observar, acabei caindo na real. Demorou, mas percebi o que estava fazendo, como estava agindo. Fiquei mal por causa disso, mas tudo passa.
Enfim, deixa eu parar de falar aqui se não sai um livro daqui a pouco, espero que vc tenha encontrado/encontre alguém com quem vc fique e diga que é ELE.
BjoxXD
Derrr, fiz um coment como se o texto fosse seu
ReplyDeleteFoi malz, agora que eu me "toquei" que você é elE e não elA
KKK
BjoxXD.,.,
Muuito bom o seu post, eu me identifiquei demais. Também sou uma pessoa que teve que lapidar o dom de ficar feliz pelas pessoas. Falando brevemente sobre mim, eu nunca tive nem um namorado em minha vida, tampouco uma amizade, e meus pais não são ricos, não poderiam me garantir nada. Por outro lado, desenvolvi um sentimento meio altruísta pelas pessoas. Sou uma pessoa genuinamente solitária, mas aprendi a compensar com os vários dons artísticos que desenvolvi, como música e desenho. Aprendi a dominar a inveja, um sentimento que eu não percebo em mim desde a adolescência. Consigo reconhecer as minhas qualidades e exaltá-las quando necessário.
ReplyDelete@Calathiel
ReplyDeletePoxa, eu acho que vc está de parabéns por ter transformado esses sentimentos muitas vezes negativos em algo belo como o desenho e a música. São atividades muito enriquecedoras que com certeza contribuem muito para te fazer uma pessoa atraente. Tanto homens quanto mulheres sofrem com a inveja mas não raro parece que a cobrança sobre as mulheres, para serem belas, de corpo perfeito, estudadas, educadas, cultas, divertidas e bem-sucedidas financeiramente, é maior. O que pode fazer com que as mulheres "modelo", essas coisas mtas vezes montadas pra capa de revista, cause mal-estar noutras mulheres. Mas se todos aprendessem a transformar isso nalgo positivo como vc o mundo seria outro. E acredite, a solidão pode levar a profundo conhecimento sobre vc mesma, o q possivelmente foi o que aconteceu, ajudando a superar mta coisa, principalmente após os tempos conturbados da adolescência.