Tim Burton sobre Alice no País das Maravilhas

Consegui falar com Tim Burton no telefone outro dia enqto ele estava no set de "Alice no Pais das Maravilhas" e tive que admitir de cara que estava surpreso que, com as filmagens em pleno andamento, ele estava tirando um tempo pra bater um papo. "Pois é, bem, eu tambem estou", disse ele em sua impessoalidade cômica, e eu não tinha certeza se dava risada ou me desculpava e desligava o telefone. Então ele me salvou de ficar boiando. "Na verdade", ele disse numa voz mais calorosa, "estamos prestes a começar então vamos ver como as coisas irão. Bem, espero."

Acho que as coisas irão bem "bem" para o cineasta de 50 anos, que parece o ser o diretor-lenda ideal para trazer o clássico surreal de Lewis Carroll "Alice no País das Maravilhas", de 1865, para as telas, às audiências do século 21.

A jovem australiana Mia Wasikowska será a Alice de Burton, enquanto Johnny Depp é a escolha inspirada para atuar como o Chapeleiro Louco.

Eu disse a Burton que parece que Depp (que tem outros personagens por vir como heroi do velho oeste, um pirata e um vampiro) vê suas escolhas de atuação como uma criança feliz remechendo um baú de fantasias. O cineasta deixou-se rir alto. "É verdade. Sim temos um grande baú de fantasias aqui. Levamos ele conosco aonde quer que vamos."

Com Alice, a versão pop que definirá a historia para as audiencias americanas modernas será a adaptação animada de 1951 da Disney, com sua Alice loira em seu vestido azul. O filme foi recebido com críticas ácidas pelo mundo literário (especialmente na Inglaterra) por sua visão agradável e obtusa do clássico de Carroll. Burton também não é fã do filme e, como no caso de "A Fantástica Fábrica de Chocolates", parece ser sua missão refazer suas formas e lembrar a todo mundo que abafar o que há de estranho num conto é torna-lo plano e esquecível.

"É um projeto engraçado. A historia é obviamente um classico com imagens, idéias e pensamentos icônicos. Mas com as versões em filme, nunca vi uma que me tivesse impactado. É sempre apenas uma série de eventos esquisitos. Todo personagem é estranho e ela [Alice] fica apenas meio que zanzando por todos os encontros como nada mais que um tipo de observadora. O objetivo é tentar faze-lo um filme engajante onde vc capte algo da psicologia que existe na obra e meio que traga algo novo ao mesmo tempo em que mantém a natureza clássica de Alice. E, vc sabe, poder fazer isso em 3-D se adapta ao material muito bem. Por isso estou excitado sobre fazer uma nova versão mas tambem ter os elementos que as pessoas esperam quando pensam no material."

Eu disse a Burton que ele estava certo, o filme da Disney é um tour sem objetivo por um parque de diversões sem qualquer envergadura de enredo que prenda. "Sim, eu sei, é apenas "Oh, esse personagem é estranho" e "Oh, essa personagem é estranha". Não consigo me lembrar de uma versão em que realmente tenha me sentido preso. Então esse é o objetivo, tentar dar a este filme uma gravidade maior que a maioria das versoes em filme que já tivemos."

Quão fácil foi persuadir Depp a conjurar mais um Bizarro enigmatico? "Ele adora fazer isso. Essa parte nunca é um problema. Ele nao gosta de ser o mesmo duas vezes. Isso e ótimo, sempre se mantem novo e tal. E ele gosta do material que temos aqui e ele absorve tudo. É ótimo ter pessoas envolvidas que sao fãs do material e tal."

Já há um plano para "Dark Shadows," baseado na novela vampírica, tambem estrelando Depp? "Ah, não sei. Faça um de cada vez, entende? É algo em que estou interessado sim é claro. Definitivamente. Mas vou começar a gravar esse aqui antes!"

Perguntei a Burton se é mais do que uma coincidencia que no decorrer da ultima decada seus filmes live-action tenham revisitado e reimaginado trabalhos existentes, sejam eles literarios (Fabrica de Chocolates, Alice, Sleepy Hollow, Big Fish), musicais ("Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street"), filmes ("Planeta dos Macacos") ou shows de tv ("Dark Shadows").

"Hmm. Interessante. Nao sei. Acho que todos sao um produto de sua formação, sabe, de certa maneira. Eu nao gostava muito de literatura. Amava filmes. O que vc cresce vendo te influencia. Caso vc seja um leitor e haja um monte de livros que vc queira traduzir em filme ou se ha outras coisas que influenciam. Com certeza fui de uma geração que as coisas com as quais cresci ainda me impactuam. Há algo de mágico em exercitar aquele aspecto da sua personalidade ou em trabalhar com alguma coisa que significa muito para vc. É mais uma forma de processar ideias e tal. Entao nao é essencialmente uma decisão consciente. Eu nao abro Guias de TV, sento la e penso "Hm, Sanford & Son, esse é o filme que eu quero fazer. Eu assisti aquilo quando eu era criança...""

Achei que seria um bom momento mudar de assunto. Houve um recente lançamento de aniversário de "Beetlejuice," entao perguntei a Burton como ele ve aquele filme em sua mente qdo olha pra tras, tanto para sua carreira qto para seu momento criativo.

"Com aquele filme, apenas me lembro que na época era o segundo filme que eu fazia e me sentia muito estranho porque todo mundo estava pensando, 'Esse filme na verdade nao tem historia e nao se desenrola como um filme de Hollywood.' Foi na realidade mto divertido e estranho ter a oportunidade de faze-lo. Me lembro daquele sentimento todo dia: 'Uau, eles estao me deixando fazer isso, o que é mto estranho.' E continua ate hoje, aquela dinamica. Ainda é estranho."

Pareceu um bom lugar para parar. Eu agradeci Burton pelo seu tempo e mencionei que espero visitar o set de Alice em breve. "Ótimo, te vejo por lá! Eu vou estar na tela verde. Apenas procure um monte de verde. Cuide-se."

-- Geoff Boucher

Quando foi anunciado pela primeira vez, a Disney disse que a adaptação de Tim Burton de Aliice no Pais das Maravilhas seria rodado usando num híbrido de atuação en vivo e captura de performance/animação computadorizada (como Beowulf). Bem, parece que Burton tambem usará animação quadro-a-quadro tambem. Alan Rickman, que atua como a Lagarta no filme explica que seu rosto é transplantado numa lagarta completamente animada.

“Então, é uma mistura. O filme é uma mistura de ação en vivo, animação por computador e filmagem quadro-a-quadro, por isso é muito complicado e eu nao acho que os tres tenham jamais sido usados juntos antes", revela Rickman. “ Entao serei eu com uma Alice viva. Eu serei um construto.”

Rickman disse à Buzzine que ele já "fez apenas o primeiro estagio, que é a gravação dele falando o texto bem de qualquer jeito. Entao, em algum ponto, eles vao animar o personagem e refazer a parte do texto." Ele tambem revela que Helena Bonham-Carter, que faz a Rainha de Copas, estará de fantasia e maquiagem mas "sua cabeça estará colocada sobre a fantasia tres vezes maior do que na verdade é."

Peter Sciretta